Carnaval 2013: A geografia do samba na cidade de São Paulo
Uma pesquisa preciosa e detalhada sobre o samba paulista transformada em livro traz o que há de melhor para os amantes do gênero. O geógrafo e pesquisador Alessandro Dozena relata, após suas muitas andanças e estudos, como o ritmo se espalhou pela Capital. “A Geografia do Samba na Cidade de São Paulo”, da Editora PoliSaber, que possui 264 páginas com fotos e mapas ricamente coloridos é um marco para aqueles que frequentam as agremiações, rodas de samba, as festas, ruas temáticas e até os botequins espalhados por todas as regiões, os quais têm o samba correndo em suas veias.

(Foto: Divulgação/Prefeitura de São Paulo)
Carnaval 2012 na cidade de São Paulo
Do nascimento do ritmo nos chamados guetos até a transmissão via satélite do maior espetáculo da Terra – os Desfiles das Escolas no Sambódromo - muita coisa aconteceu. São Paulo apresenta uma vigorosa manifestação cultural associada ao samba. Ponto de encontro de todas as musicalidades – das mais modernas às tradicionais, das populares às eruditas, brasileiras e estrangeiras, além daquelas presentes no sertão e no litoral.
“O samba é um elemento de afirmação de identidade relacionado ao processo histórico nacional brasileiro, capaz de trazer a identidade e o autoconhecimento à coletividade. Mais do que uma modalidade musical, ele se tornou um elemento central na cultura brasileira, amplo sistema de práticas e representações sociais, uma complexa teia de sentidos e significados com densa impregnação na paisagem urbana. Seu principal formato moderno é o carnaval. Nas últimas décadas, São Paulo passou por uma alteração significativa, de cidade fortemente industrial para uma cidade prestadora de serviços variados. A dinâmica turística passou a incorporar festas, e no caso do samba, o carnavalsurgiu como um novo produto com apelo turístico, voltado ao espetáculo”, diz Dozena.
Para ele, surgiram trabalhos que buscam as interfaces entre o espaço geográfico e a cultura, tratando de temas variados como música, religião, turismo, identidade, patrimônio cultural, gêneros de vida, paisagem cultural, dentre outros. A partir dos anos 90 há no Brasil um aumento do interesse pela dimensão espacial da cultura. Um olhar geográfico sobre o samba contribui para uma melhor compreensão do mundo contemporâneo.
Movimentos como a Rua do Samba Paulista, Samba de São Mateus, Samba da Laje, Samba do Cafofo, Samba do Olaria, Samba da Maria Cursi, Comunidade Morro das Pedras, Moleque Travesso, Samba de Fato, Só quem é Negreiro, entre outros já conquistaram sambistas como Leci Brandão e Beth Carvalho. Baluartes paulistanos (inclusive muitos que já se foram) estão presentes no trabalho, como Toniquinho Batuqueiro e Geraldo Filme, além de Seu Carlão do Peruche e Adoniran Barbosa, só para citar alguns dos muitos sambistas que contribuíram para esta rica história direta ou indiretamente.
A lógica da concentração territorial da produção cultural do samba na cidade de São Paulo está atrelada a fatores econômicos. Para a pesquisa, o autor contou com inúmeros colaboradores importantes, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que financiou a obra por meio do programa de bolsas de estudo. O sambista Osvaldinho da Cuíca comentou sobre a obra, além de escrever a ‘orelha’ do livro: "Esse debate, com seu intercâmbio entre acadêmicos e populares, é de vital importância. Ficam, então, os meus parabéns e o meu ‘viva’ ao samba de todos os pedaços!"