terça-feira, 29 de abril de 2014

Campo e cidade no Brasil


Campo e cidade no Brasil: transformações socioespaciais e
dificuldades de conceituação
Júlio César Suzuki
Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (2002)
Professor Doutor do Departamento de Geografia/FFLCH/USP

A cidade e o campo, no Brasil, surgem no movimento de expansão da modernidade
e do moderno a partir da expansão ultramarina. Estas duas formas sócio-espaciais estão
no bojo do encontro de temporalidades históricas extremamente diversas: a da sociedade
capitalista e a das sociedades indígenas.
No avanço genocida e etnocida da modernidade, constituindo um tempo de intensa
barbárie nos espaços de colonização como na África, na Ásia, na Oceania e na América
, redefine-se a divisão do trabalho, regida pelas regras da sociedade capitalista, cuja matriz
está marcada pela busca do melhor aproveitamento do tempo.
Nos marcos desse avanço sócio-econômico-cultural é que a sociedade capitalista vai
definindo, a partir da gênese e da formação das aglomerações urbanas e dos campos
agrícolas, a sua presença, ora com maior, ora com menor resistência das sociedades que
há muito viviam nestas terras.
O campo e cidade no Brasil passaram por intensa metamorfose, não só porque
houve uma mudança nos seus conteúdos e nas suas formas, mas, também, devido às
possibilidades novas que foram se constituindo de estabelecimento de vínculos e de
influência de um sobre a outra, ou vice-versa. É, então, neste contexto de metamorfoses
sociais, econômicas e políticas que tentaremos analisar as transformações socioespaciais
da cidade e do campo, no Brasil, como fundamento da discussão da importância de sua reconceituação,
na contemporaneidade, para dar conta de seus novos conteúdos e novas
formas.
No caso brasileiro, a ocupação colonial vai se estabelecendo, sobretudo, a partir da
linha litorânea. Neste processo, pequenas aglomerações vão sendo formadas.

Texto completo disponível em:

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Campo, cidade, rural e o urbano

 O conceito de espaço rural em questão  

Marta Inez Medeiros Marques
Professora Doutora do Departamento de Geografia 
da Universidade de São Paulo. 

Correio eletrônico: mimmar@usp.br

Apresentação
Este ensaio analisa o espaço rural e seu significado à luz da relação cidade-campo, pois, conforme se verá a seguir, estes dois espaços não podem ser compreendidos separadamente. 
O espaço rural tem passado recentemente por um conjunto de mudanças com significativo impacto sobre suas funções e conteúdo social, o que tem levado ao surgimento de uma série de estudos e pesquisas sobre o tema em vários países, sobretudo nos países desenvolvidos, onde esse processo apresenta maior importância. 
No caso do Brasil, o despertar para esta problemática tem se dado principalmente entre os estudiosos comprometidos com a discussão de uma nova estratégia de desenvolvimento rural para 
o país, ou seja, a partir de uma perspectiva instrumentalista. Para estes, a superação da extrema desigualdade social que marca a sociedade brasileira passa obrigatoriamente pela definição de políticas de valorização do campo. 
O projeto de desenvolvimento rural adotado ao longo de décadas no país tem como principal objetivo a expansão e consolidação do agronegócio, tendo alcançado resultados positivos sobretudo em relação ao aumento da produtividade e à geração de divisas para o país via exportação. No entanto, esta opção tem implicado custos sociais e ambientais crescentes. 

O avanço dos movimentos sociais no campo e a intensificação de suas lutas, têm tornado cada vez mais evidente a necessidade de se elaborar uma estratégia de desenvolvimento para o campo que priorize as oportunidades de desenvolvimento social e não se restrinja a uma perspectiva estritamente econômica e setorial. 
Além disso, nos principais centros urbanos do país vive-se uma situação de crise, marcada por um forte aumento da violência e do desemprego, além das péssimas condições de saúde, educação e habitação enfrentadas por grande parte de seus moradores. O intenso processo de êxodo rural verificado na segunda metade do século XX, responsável pelo alto grau de urbanização alcançado por nossa população, encontra-se hoje em fase de desaceleração, tornando-se cada vez mais significativa a migração entre pequenos municípios rurais e o movimento cidade-campo. 
Apesar de o Brasil ser um país de população predominantemente urbana, com apenas cerca de 20% de sua população residindo em áreas rurais, segundo dados do Censo do IBGE de 2000, grande parte de nosso vasto território permanece rural e apresenta forte potencial agrícola. 
A pobreza é proporcionalmente muito maior no campo do que na cidade, atingindo 39% da população rural em 1990 (IPEA, 1996). É também neste espaço onde são identificados os menores índices de escolaridade e as maiores taxas de analfabetismo do país. A agricultura concentra hoje os mais baixos níveis de renda média. 
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Disponível no site da AGB, link da Revista Terra Livre. Número 19, páginas 95 à 112.